Rosa Ward mordia a borracha
do lápis e olhava fixamente, com um olhar perdido para seu pequeno
bloquinho. Estava nervosa. Nunca tinha trabalhado num caso de
homicídio antes e nunca sequer tinha se imaginado no mesmo lugar que
um cadáver. Estava nervosa.
Em sua pequena colmeia,
analisando o que a polícia sabia dos corpos até então, ela
acreditava que seria outro dia ordinário de trabalho. Foi quando seu
chefe a ligou e disse para encontrar a força tarefa numa pequena
floresta aberta para visitamento no lado rico da cidade. Rosa sentiu
seu estômago se retrair por completo, nunca tinha visto um corpo. E
hoje não só veria um, mas teria que fazer perguntas sobre o mesmo
para os policiais, saber cada pequeno detalhe. E escreveria uma
matéria sobre ele. Pôs na cabeça que seria uma matéria incrível,
que agarraria essa chance como nunca.
Agora, dentro do carro de
seu parceiro, George, que parecia mais uma vela de tão pálido, ela
encarava a página em branco de seu bloquinho. No topo, apenas
escreveu corpo 3. Olhou para George, que de alguma forma,
conseguiu dirigir até a pequena floresta e rolou os olhos. Ele
sequer havia tirado as mãos do volante. Olhava para frente, as
patrulhas com as luzes ligadas, cercando a entrada do parque. A
polícia estava por toda a parte. Rosa o sacudiu o braço e ambos
suspiraram. Saíram do carro e logo começaram a adentrar na mata.
Um policial bonito, de
charme aparente os conduziu até o local do cadáver. Eram muitas as
pessoas em volta, mas Rosa não teve dificuldade em reconhecer Joshua
Needle e sua equipe. George vinha sempre em seu encalce e agradeceu o
policial. Rosa já o havia esquecido, estava fascinada com a cena. O
cheiro era completamente inundante. Penetrava em suas narinas,
fazendo respirar se tornar mais difícil. Ela estava vivendo um
filme.
Joshua avistou os
jornalistas e os cumprimentou com um sorriso. Aproximou-se com as
mãos nos bolsos e se apressou em se apresentar.
'Joshua, Joshua Needle,
líder da equipe, sejam bem vindos.', Rosa sorriu de volta e George
estremeceu.
'Sou Rosa Ward e esse é
George Hammilway, somos os jornalistas encarregados do caso.',
sentiu-se estúpida no mesmo segundo em que proferiu as palavras.
Jornalistas encarregados do caso. Até parecia ser importante
na investigação. Na verdade não era.
'Sei que o cheiro é
desconfortável, mas depois de algumas cenas de crime acabamos por
nos acostumar. O corpo está logo ali, é de uma mulher de
aproximadamente trinta anos, caucasiana, sem identificação. Não há
nada que diga que ela foi morta aqui e sim desovada... Você não
deveria estar anotando tudo isso?', Joshua cortou o fluxo imaginário
de Rosa, que logo trouxe sua mente de volta à realidade. Ela sorriu
e começou a anotar rapidamente tudo que havia ouvido até agora.
Trinta anos, caucasiana, sem identificação, desovada. Joshua
pareceu aprovar e com um gesto, os levou a mais próximo do corpo.
'Francis, esses são George
e Rosa. Os jornalistas.', apresentou ele. Ambos os jornalistas
esticaram as mãos, afim de um aperto.
'Rebecca Francis, profiler.
Vamos ver vocês bastante por aqui, então os aconselho a estarem
sempre de tênis e roupas confortáveis.', disse ela ajeitando os
óculos escuros na cabeça. Não estava sol.
Rosa sorriu por educação e
buscou o corpo com os olhos. Estava curiosa. O cheiro estava mais
forte. A putrefação se espalha com facilidade.
George estava cada vez mais
branco e Rosa, mais curiosa. A equipe os cumprimentou com gentileza e
os escoltou até o corpo. Era uma moça bonita, apesar de seu estado
de decomposição. Seu tórax estava completamente talhado e seu
rosto, virado para cima, para que todos pudessem vê-lo.
'Ele gosta de ver suas
vítimas morrerem, gosta de desumanizá-las. Para ele, elas são
apenas um objeto de prazer, nada mais.', disse Francis, olhando para
a vítima deitada no meio dos galhos e folhas.
'Ele?', perguntou Rosa.
'Sim, com essa vítima
podemos concluir que temos um único serial killer.', Fracis
ajeitou novamente os óculos na cabeça. Que mania irritante. Rosa
observou Rebecca por um instante. Tinha grandes olhos amendoados,
pequenas sardinhas no rosto todo, como se tivessem começado a
crescer na maçã do rosto e, em algum momento, perderam o controle.
Pequenas covinhas apareciam nas laterais de suas bochechas magras
quando sorria ou pronunciava a sílaba “fi”. Não lhe caía bem.
Eram características bonitas, mas um conjunto desajeitado numa
mulher acima da estatura média, de ombros largos que mal sabia se
vestir. Parecia usar roupas unisex. Jaqueta de couro e jeans
folgadas, porém não demais. Óculos de sol na cabeça prendendo a
única coisa que a dava um ar feminino: seu cabelo longo solto. 'É o
prazer de matar que o impulsiona. Incrível como esses assassinos
seriais estão cada vez mais doentes.'
'Se parece com um romance
meu...', comentou Rosa baixinho. Infelizmente, não saiu tão baixo
quanto queria.
'Tem algum romance
publicado?', perguntou Needle.
'Não.'