Todos dentro da sala tinham
grandes olheiras e as roupas começavam a ficar largas demais para
seus corpos magros e mal alimentados. O trabalho tomava seu preço,
tirando dos agentes da força tarefa grande parte do conforto de suas
vidas. A dedicação agora era completa, já que mais de meses haviam
se passado e nenhum deles conseguira reunir algo significativo.
O primeiro corpo fora achado
numa Segunda-feira, nos matos mal cortados de uma praia de nudismo
vazia perto da costa. Um homem com seus trinta e tantos anos andava
pela área com a namorada e viu os cabelos ruivos despontando para a
areia. A princípio, achou que a mulher dormia. Continuou a
caminhada, relaxou perto do pontal e quando voltava para casa, a
mulher ainda estava lá. Tentou acordá-la e ao perceber que era
apenas um corpo, ligou para a policia.
Joshua foi chamado
imediatamente, levado ao local com outros policiais e detetives do
departamento mais próximo. Recolheram cabelo, raspas das unhas e a
mandaram para o médico-legista. As feridas eram tantas que mal
sabia-se por onde começar. Lenny, o legista, pareceu satisfeito ao
ver os machucados limpos de qualquer vestígio de sangue, mas sujos
de areia escura. Depois de quase uma madrugada inteira e metade da
manhã, Lenny entregou um relatório completo sobre tudo que havia
descoberto. Era um relatório enorme de quase cinco páginas. Cortes
de órgãos internos feitos com precisão cirúrgica, um coquetel
extenso de venenos, relaxantes musculares, adrenalina e penthatol,
machucados superficiais que dessangraram e fizeram cicatrizes mal
terminadas. Joshua via um assassino frio e cruel, mas o perfil do
mesmo não era sua responsabilidade.
O segundo corpo foi achado
duas semanas depois, ao lado de uma clínica de aborto má
frequentada no lado mal cuidado da cidade. Era um rapaz por volta dos
vinte anos, de porte atlético e bonito. Seu corpo fora bem
conservado e ao chegar o relatório do médico-legista, pode-se notar
o uso das mesmas drogas usadas na moça, os mesmos tipos de corte e o
que para todos pareceu ser uma leve e discreta assinatura. Um “A”
maiúsculo, praticamente perdido entre tantos cortes e queimaduras
feitos na caixa torácica. Mas antes de chegar a assinatura, Joshua e
seus colegas se preocupavam com o M.O do assassino, que não parecia
fazer muito sentido até então.
Joshua mexeu em seu burrito
frio com o garfo de plastico, bufando frustrado quando Clarice se
aproximou. Sentou-se na mesa, a sua frente, com um belo sorriso.
Joshua mal reparava nas mulheres. Mal reparava em sua própria
mulher. E não se sentia culpado por isso. Sorriu de volta para
Clarice e teve certeza: não tinha mais jeito com as mulheres. Jeito
nenhum.