quinta-feira, 1 de agosto de 2013

Capítulo Quatro

As batidas altas eram excruciantes. Aquele ambiente era impróprio para qualquer ser humano, em sua opinião. Mas se queria mesmo aquilo, aquele era o lugar. Deixou aquela batida insuportável balançar seus quadris suavemente de lado para lado e fechou os olhos. Exalava sensualidade e sabia. Todos na pista de dança daquela espelunca sabiam. Seus movimentos atraíam olhares de todos os tipos, mas do bar, um par de olhos verdes fixou-se nos quadris dançantes para não se desprender mais. Nem mesmo para bebericar de seu dry martini. Os movimentos feitos pelos quadris eram hipnotizantes e depois de alguns minutos, o par de olhos já havia se rendido.
Levantou-se, abandonando o dry mantini, erguendo a alta figura magra e esbelta. Era dona de lábios fartos e desenhados e um sorriso escoado de quem esconde segredos curvos, assim como sua silhueta. Aproximou-se de Adele e de seus quadris dançantes, levando as mãos de dedos finos e longos ao ombros da outra, virando-a para si. Os olhares fixaram-se e um sorriso idêntico brotou em ambos os lábios. Completaram-se. Adele, sutilmente retirou as mãos da estranha de seus ombros e as juntou as suas, num gesto carinhoso nada condizente a sua personalidade voraz.
Com um verniz impecável perante a sociedade no geral, Adele se passava como qualquer mulher para todos. Inclusive para a bela estranha naquele estranho lugar. Virou de costas, pousando as mãos da estranha em seus quadris, ainda dançantes, e provocantemente uniu os corpos de ambas. Tirou os cabelos loiros e longos do pescoço, o oferecendo à moça que nem o nome sabia, como se fosse frágil, como se oferece também o controle da situação. Pobre engano.
Enquanto dançavam noite adentro, do lado de fora daquela pequena pocilga o mundo ainda girava e a polícia ainda corria contra o tempo. E Adele pouco se importava. Ainda era anônima e invencível. E seria até quando quisesse.
'Caroline.'
'O que?', sussurrou Adele entre os lábios entrelaçados.
'Meu nome é Caroline.', disse a estranha. Sua voz era rouca e grossa, quase fez Adele rir. Assentiu e segurou Caroline pelas mãos, a guiando para a saída. A noite estava gelada, mas nenhum vento ousava passar pelas ruas esburacadas daquela parte da cidade. Caroline usava uma calça social e uma ribana, seu terninho estava em mãos. Seu conjunto era todo preto, assim como seu salto de bico fino.
'Sou Adele. Traje bonito, Caroline.', disse com um sorriso debochado. Caroline riu sem graça e pôs o curto cabelo atrás da orelha.
'Sou advogada, saí do trabalho para uns drinks e deparei com você.', ela era perfeita. Era advogada!

'Advogada? Que incrível!', Adele fingiu surpresa mesclada com algo gostoso e cruzou os braços, tremendo levemente de frio. Sabia brincar de ser frágil como ninguém. Caroline sorriu como o doce de mulher que era e a envolveu com seu terninho. 'Só falta me dizer que é da vara criminal.', torcendo em seu âmago para que fosse, Adele observou a próxima expressão de Caroline concordar. Um leão dentro dela rugiu. Caroline era simplesmente perfeita. Perfeita! Era inteligente, porém não demais. Era astuta, esperta, mas sua vida havia caído na mesmice. Ela queria algo mais, queria o brilho em seus olhos de novo. E mataria por isso. Adele sabia. Caroline não fora a sua primeira cúmplice. E não seria a última.

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